Aliciadores atraem mulheres pelas redes sociais para prostituição em garimpos ilegais na Terra Yanomami, diz PF
A Polícia Federal descobriu que aliciadores atraem mulheres pelas redes sociais para levá-las à prostituição em garimpos ilegais na Terra Indígena Yanomami. A polícia chegou a essa conclusão após uma adolescente de 15 anos ser resgatada em uma fiscalização contra invasores. Enganada, a vítima contou ao Conselho Tutelar que era obrigada a fazer até 16 programas por noite.
Com promessa de ganhar até R$ 5.800 por mês, em dinheiro ou ouro, a menina aceitou uma proposta recebida pelas redes sociais para trabalhar como cozinheira no garimpo, mas, ao chegar na região, foi obrigada a se prostituir.
Após mais de 20 dias e passagem por vários cabarés, ela conseguiu sair em um barco, abordado pela PF e Ibama no rio Mucajaí, nesta terça-feira (14).
Agora, a PF tenta identificar as pessoas que fazem parte da organização criminosa envolvida na cooptação de mulheres e adolescentes para se prostituírem nas áreas de garimpo de Roraima.
“Pelo contexto inicial, verificamos a existência de uma estrutura logística que passa pela etapa de cooptação pelas redes sociais. Também, nessa etapa, é onde ocorre o engano em que essas mulheres e adolescentes são cooptadas por promessas. Essa, inclusive, foi por trabalhar na cozinha do garimpo, mas, quando chegou lá, na verdade, o trabalho seria outro, que era para atuar na prostituição”, disse em entrevista à Rede Amazônica o delegado da PF Marco Bontempo, responsável pelo procedimento de resgate da menina.
A rede de prostituição, afirma o delegado, é uma das cadeias financeiras que mantém a atividade ilegal, assim como o tráfico de drogas e de armas. “É uma das logísticas que nos devemos também combater, que é o que também sustenta o garimpo nessas regiões indígenas”, pontua.
No barco abordado pela PF, os agentes identificaram que outras mulheres, inclusive a garota, tinham sido cooptadas por agenciadores para se prostituírem no garimpo. A adolescente havia sido dada como desaparecida pela família.
Ao encontrá-la, a PF identificou o boletim de ocorrência registrado no dia 12 de fevereiro, um mês antes do resgate, em que a mãe comunicava o sumiço da menina.
Ela foi levada à sede da PF em Boa Vista, onde prestou depoimento. Diante da gravidade e situação de vulnerabilidade, o Conselho Tutelar também foi acionado para garantir medidas de proteção.
“Ela não estava machucada, mas, sim, abalada psicologicamente. Até nos sentimos o alívio dela quando chegou até aqui, porque ela se sentiu resgatada desse grupo. Ela foi cooptada para cozinhar e chegando lá, na verdade, tomou conhecimento que ia se prostituir”, lembrou o delegado.
O resgate da menina evidenciou, pela primeira vez de forma concreta, segundo Bontempo, como funciona logística utilizada para exploração sexual de mulheres na Terra Yanomami .
“A PF já tinha conhecimento de “cabarés” no garimpo, mas essa é a primeira vez que identificam uma logística tão estruturada, e que é uma das logísticas que mantém o garimpo”.
Ameaças e fuga
Além de depor ao delegado na PF, a menina também foi ouvida pelo conselheiro tutelar Franco Rocha, que acompanha o caso junto à polícia. Para ele, ela relatou que era constantemente ameaçada. Caso decidisse sair do território sem a autorização, não receberia nada em dinheiro – e foi o que ocorreu.
“No caso dela, ela ficou por mais de um mês, foi ameaçada para que não procurasse a polícia, se não, eles sabiam onde ela morava e iriam executar ela e a família”, disse Franco.
Ainda de acordo com o conselheiro, a menina afirmou ter visto várias outras adolescentes, também vítimas de prostituição.
“Quando ela chegou lá, viu que tinham várias outras adolescentes, de 15, 16, 17 anos. E, em determinando momento, eles retiram essas adolescentes dos cabarés e encaminham para outros cabarés, como se fosse um rodízio. Lá elas são ameaçadas constantemente, e eles falam que só vão receber no final, quando voltar”.