Morre o filósofo Antonio Paim, expoente do pensamento liberal brasileiro
Paim foi vencedor do Prêmio Jabuti em 1985 e referência intelectual de ex-ministro da Educação de Bolsonaro
Morreu na sexta-feira, aos 94 anos, o filósofo e historiador baiano Antonio Ferreira Paim. Nascido em Jacobina, ele é considerado um dos maiores expoentes do pensamento liberal brasileiro. Foi vencedor do Prêmio Jabuti em 1985 com o clássico A História das Ideias Filosóficas no Brasil e do Prêmio Nacional do Livro de Estudos Brasileiros em 1968. Foi um dos fundadores e presidente de honra da Academia Brasileira de Filosofia.
Paim estudou filosofia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde depois se tornou professor. Ele ainda lecionou em faculdades como a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e a Universidade Presbiteriana Mackenzie. Na PUC-Rio, organizou e coordenou o curso de mestrado em Pensamento Brasileiro.
Ao longo de sua vida, dedicou-se ao estudo do pensamento filosófico brasileiro e ao pensamento político. Também foi autor de História do Liberalismo Brasileiro (1998) e A Querela do Estatismo (1994), obra na qual aborda o conceito de patrimonialismo na realidade brasileira. Tem ainda títulos publicados na área da filosofia da educação e da moral, como Momentos Decisivos da História do Brasil.
Os estudos do pensamento de Paim, segundo estudiosos de sua obra, dividem-se em três fases. Uma abordou a filosofia brasileira; outra, o pensamento político brasileiro; e a terceira, as ideais morais no País.
O cientista político Paulo Kramer, com quem Paim assinou o livro sobre o patrimonialismo, lamentou a morte do filósofo. “Além das saudades, ficam sua vasta e magnífica obra e seus exemplos de amor ao saber, generosamente compartilhado, hombridade cívica e honestidade intelectual”.
No governo de Jair Bolsonaro, Paim passou a ser citado por figuras como o ex-ministro da Educação Ricardo Vélez Rodriguez. Vélez foi aluno de Paim na década de 1970, quando recebeu uma bolsa para estudar na PUC-Rio. Em seu discurso de posse, Velez vinculou a “inspiração liberal-conservadora” na educação a Paim e ao escritor Olavo de Carvalho. Ontem, Vélez definiu o filósofo como um representante do ideal humanístico de inspiração liberal
O cientista político Rubens Figueiredo classificou Paim como “um apaixonado pelo Brasil” e elogiou o seu conhecimento histórico. Figueiredo escreveu um livro sobre o empresariado com Paim, para quem foi o maior estudioso sobre liberalismo no Brasil.
“A vida dele era pensar e escrever”, disse ao Estadão. Afirmou que o filósofo era um “apaixonado pelo argumento” e que ele sempre “escutava” quando estava debatendo.
O Instituto Liberal declarou que o filósofo deixa “imenso legado” aos que trabalham para “estruturar a alternativa liberal em bases sólidas”.
Na juventude Paim foi filiado ao Partido Comunista do Brasil, atividade pela qual chegou a ser preso. Uma vez solto, foi enviado para estudar teoria leninista na Universidade Estatal de Moscou, uma das mais antigas da Rússia. O rompimento veio com a divulgação dos crimes de Stalin, em 1956.
“Fui eu que lutei para distribuir o relatório para o Partido Comunista brasileiro. Não dava para ficar no partido depois daquilo. Da minha geração, ninguém ficou”, disse Paim a revista Época em 2019. Na entrevista, o filósofo falou ainda sobre a ojeriza às ideias socialistas e à chamada “doutrinação marxista” “O Brasil é o único país do mundo, além da França, onde o comunismo parece que não acabou”, afirmou na ocasião.
Isso não impedia que fosse reconhecido por nomes da esquerda. “O Brasil perdeu o grande intelectual e historiador das ideias Antonio Paim, autor do clássico História do Liberalismo Brasileiro”, escreveu Aldo Rebelo, que foi ministro do ciclo petista e militante do PCdoB.