Moro nega interferência em operação da PF que apura invasão de celulares
Ex-juiz e ex-deputada Manuela D’Ávila prestaram depoimento no processo ao qual respondem suspeitos de invadir celulares de autoridades, alvos da Operação Spoofing
O ex-ministro da Justiça Sergio Moro disse nesta segunda-feira (17) à Justiça Federal em Brasília que não interferiu na atuação da Polícia Federal (PF) no âmbito da Operação Spoofing, que apura a invasão a celulares de autoridades.
Moro foi ouvido como testemunha no processo ao qual respondem os suspeitos de cometerem o crime.
A operação que prendeu os seis supostos hackers foi deflagrada em julho do ano passado, enquanto Sérgio Moro ocupava o cargo de ministro da Justiça. Investiga a interceptação de mensagens de autoridades, como o presidente Jair Bolsonaro, o ex-ministro Sergio Moro, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) e procuradores da Operação Lava Jato.
No ano passado, o Ministério Público denunciou seis pessoas por organização criminosa e interceptação de comunicação pelo esquema de invasão de celulares. Os indiciados foram os seis presos nas duas primeiras fases da operação.
Na audiência desta segunda, Moro disse que recebia do então diretor-geral da Polícia Federal Maurício Valeixo informações sobre as investigações, mas, afirmou, nunca interferiu.
“Fui informado acerca do desenrolar das investigações, o estado em que estava ocorrendo por causa da minha condição de vítima. Mas o delegado teve autonomia para seguir com o caso. Ele me reportou os fatos e como estava indo a investigação.”, disse o ex-juiz.
Moro afirmou também que a invasão dos hackers era tratada como caso de segurança nacional, porque havia informações sobre ataques a diversas autoridades públicas.
“Isso precisou de um acompanhamento do Ministério da Justiça, mas sem tirar a autonomia da Polícia Federal”, disse Moro.
O ex-juiz negou que tenha pedido para a Polícia Federal destruir mensagens apreendidas durante a operação.
“Havia um receio — ao meu ver infundado — de que a Polícia Federal pudesse devassar a privacidade ou usar esse material de alguma maneira inapropriada quanto aos agentes públicos [que tiveram os celulares hackeados]. O que apenas houve, na ocasião, é que comuniquei algumas vítimas que sofreram o ataque e falei p que a Polícia Federal não iria analisar o conteúdo do material apreendido porque ele era evidentemente ilícito.”
Moro disse que a atuação dos hackers prejudicou o sigilo de operações da Lava Jato que estavam em curso à época.
“Essas mensagens foram utilizadas de maneira sensacionalista para interromper investigações de crimes de corrupção e anular condenações de pessoas que foram envolvidas em crimes de corrupção”, afirmou Moro.
A ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) também prestou depoimento. Ela voltou a dizer ter sido procurada por um hacker em 2019 que buscava repassar as mensagens dos procuradores da Operação Lava Jato.
Por: Wellington Hanna, TV Globo