Cidades brasileiras se unem em defesa de uma política nacional para Carnaval
Gestores do Carnaval dos quatro principais estados relacionados à festa no Brasil se uniram para defender uma política nacional para o festejo. Representantes de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco discutiram a realização do Carnaval no Brasil em 2022 durante um Webinar realizado nesta quarta-feira (4) às 10h de forma online. O encontro foi mediado pelo vereador e ex-secretário de Cultura e Turismo de Salvador Claudio Tinoco (DEM).
Os participantes defenderam a criação de uma política nacional do Carnaval, impulsionando a festa e a transformando em um eixo econômico do país. A participação do governo federal na discussão também foi mencionada, já que atualmente não há patrocínio federal para a festa ou até mesmo uma centralização na discussão da retomada do evento no pós-pandemia.
“O Carnaval no Brasil movimenta cerca de 8 bilhões de reais e gera milhares de empregos temporários. Uma pesquisa feita pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) apontou que 3.800 municípios relataram um aumento de 20% na arrecadação durante o Carnaval”, disse o vereador e Corregedor da Câmara Municipal de Salvador Claudio Tinoco, que esteve durante oito anos à frente da gestão da festa na capital baiana.
“Então temos uma movimentação financeira muito importante, de uma festa forte da cultura brasileira e, ainda assim, não temos a discussão de uma política nacional para a festa, com debates integrados e promovidos pelo governo federal ou até mesmo uma política de financiamento de origem do governo federal para manter essa festa tão importante para a nossa cultura”, acrescentou Tinoco.
Contando com a abertura do presidente da Câmara Municipal de Salvador Geraldo Júnior e mediação do vereador Claudio Tinoco, o Webinar foi composto também pelas presenças de Alexandre Modonezi, Secretário das Subprefeituras da cidade de São Paulo; Isaac Edington, Presidente da Empresa Salvador Turismo (Saltur); André Brasileiro, Gerente de Ação Cultural da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe); Rita Fernandes, Presidente da Associação Independente dos Blocos de Carnaval de Rua do Rio de Janeiro (Sebastiana); e Waldner Bernardo, Diretor regional da Associação Brasileira de Produtores de Eventos (Abrape) e membro do CONTUR-PE.
Secretário das Subprefeituras da cidade de São Paulo e responsável pela organização da festa de rua do município, Alexandre Modonezi destacou a reestruturação que o Carnaval de São Paulo passa. “Antes eu viajava durante o Carnaval, porque São Paulo não era referência, e hoje a gente trabalha para a construção de uma festa que vem se fortalecendo”, disse.
Modonezi explicou que a festa organizada pela Prefeitura tem particularidades diferentes de outros locais. “A Prefeitura de São Paulo é responsável pela infraestrutura do Carnaval, e não pela contratação de artistas dos blocos. Aqui, temos a festa distribuída nas 32 subprefeituras da cidade. Temos, por exemplo, 22 milhões de habitantes que moram na Região Metropolitana de São Paulo e quase 90% do público que vai à festa é dessa região, então isso nos desafia em construir a logística necessária, principalmente de transporte, para o Carnaval”, destacou.
Presidente da Empresa Salvador Turismo (Saltur), Isaac Edington, responsável pela gestão do Carnaval de Salvador nos últimos 6 anos, destacou a importância de se discutir e planejar o Carnaval com antecedência.
“Vemos um grande preconceito com relação ao setor. Só de citar a organização do Carnaval nós já encontramos uma resistência muito grande e sempre que tenho a oportunidade eu digo que precisamos falar de Carnaval, sim! Trabalhando, buscando alternativas, nos organizando e planejando. Todas as cidades que estão aqui participando do Webinar com certeza entregaram o maior Carnaval da história da cidade e todos vamos trabalhar para entregar o maior novamente quando pudermos”, destacou Edington.
“Nós precisamos pensar em todas as alternativas possíveis. Tudo isso dentro da condição sanitária, segurança possível, mas temos que estar preparados para entregar o Carnaval”, defendeu o gestor.
André Brasileiro, Gerente de Ação Cultural da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), defendeu a realização da retomada do Carnaval com cuidado “para não colocar em risco a população”. “A gente tem que entender quais são os protocolos que precisamos seguir para ter segurança mesmo com a perspectiva que temos em ter a população de até 12 anos vacinada até o Carnaval. A capilaridade que a festa tem hoje, realizada em diversos bairros das capitais que aqui estão, também gera uma responsabilidade muito grande nossa enquanto cultura, estado e município. A gente precisa estar muito antenado, articulado com as diversas instâncias nacionais e internacionais”, defendeu Brasileiro.
Rita Fernandes, presidente da Associação Independente dos Blocos de Carnaval de Rua do Rio de Janeiro (Sebastiana), destacou que o Carnaval do Rio de Janeiro enfrentou muitos desafios nos últimos anos, principalmente relacionados à gestão pelo Poder Público. Ela defende uma conversa nacional entre os gestores da festa, mas também uma diferente forma de pensar o Carnaval no país.
“Nós precisamos transformar o Carnaval em um eixo econômico do país, assim como o petróleo e a agricultura. Carnaval é potência econômica, matriz cultural, tanta coisa que se não trouxermos o debate para o centro, estaremos perdendo uma grande oportunidade. Carnaval é uma festa de todos nós, independente do modelo que se tenha. É um traço da nossa identidade que nos une, agrega, é um lugar da democracia das artes, do folião”, destacou Rita, que lembrou que o planejamento com antecedência da festa se faz necessário principalmente por conta da fragilidade da sociedade e da economia no pós-pandemia.
Waldner Bernardo, Diretor Regional da Associação Brasileira de Produtores de Eventos (Abrape) e membro do Conselho de Turismo de Pernambuco (Contur), cobrou uma “isonomia de tratamento” ao setor de eventos. De acordo com ele, o setor está sendo tratado de forma distinta dos demais. “Não tenho nada contra os outros setores da economia, mas acho um absurdo ver os shoppings funcionando, alguns deles com teatro dentro, por exemplo, e para entrar no shopping só se faz o aferimento da temperatura e já no teatro temos que fazer testagem. Nos nossos aeroportos nem mesmo a temperatura está sendo aferida. Então eu acredito que o trade de eventos deve ser tratado com mais isonomia”, disse Waldner.
Por fim, ficou firmado o compromisso da Câmara Municipal de Salvador estabelecer uma agenda permanente para discutir a retomada do Carnaval de forma nacional. “Nós já pensamos em novos encontros onde devemos discutir, por exemplo, uma política de financiamento para o Carnaval, além de definirmos também uma estratégia de comunicação uníssona sobre os aspectos relacionados à festa, principalmente para combatermos a desinformação e as fake news”, destacou o vereador Claudio Tinoco.